Resultados da pesquisa por: Um som

Um Som para Laio

Na minha cabeça Uma guitarra toca sem parar Trago um par de fones nos ouvidos Pra não lhe escutar O que você tem pra dizer Ouvi a cem anos atrás O que eu faço agora Você não sabe mais Na minha cabeça Uma guitarra toca sem parar Trago um par de fones nos ouvidos Pra …

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Projesombras (nós) – Alice Ruiz

por causa deRegina Silveira no mundo das sombrasos objetos inchamgrávidos de outras formas silhuetas dissimulando similaridadesparódias e paradoxoslinearidades em desalinho aquiarmas são a alma das louçasaliprojesombras milimetricamentecalculadas inauguram com humoro outro lado do rigor o primeiro planopassa a pano de fundoo que é o fundo?o que é a figura?o que é a coisa?o que é …

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Diálogo na sombra – Jacinta Passos

– Que dissestes, meu bem?– Esse gosto.Donde será que ele vem?Corpo mortal.Águas marinhas.Virá da morte ou do sal?Esses dois que moram no fundo e no fim.– De quem falas, amor, do mar ou de mim?– Jacinta Passos (1944), em “Canção da partida”. São Paulo: Edições Gaveta, 1945. Jacinta Passos Autor: Jacinta Passos

Benzinho (Dear Someone)

BenzinhoPor que deixou-me assimSozinhoE triste e a recordarO seu beijo, seu carinhoO seu modoDe falarNão consigo viver assimBenzinho tenha dó de mimBenzinhoNão sei qual a razãoBenzinhoÉ seu meu coraçãoNão consigo te esquecerSem seu beijoNão sei viverNão resisto à tanta dorNão sei porque você não quer me dá o seu amor oh ohBenzinhoPor que deixou-me assim

A sombra da partida

Nada mudou ainda, nós estamos aquiSorrindo sem motivo, tão sem ter pra onde irNa nossa despedida ninguém soube falarEu vi o amor fugindo em teu olhar Na sombra da partida, na luz da solidãoQuem quer mais uma vida, só mais uma ilusão?Procuro a saida onde vou te encontrarEu vi o amor fugindo em teu olhar …

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Canção do lobisomem

Eu sou inquieto assim pra dar um corte E no elo entre a satisfação e a morte Sou o ofício secreto do veneno Corroeno o amor Deus o tenha! Como disse Drummond (mais que epopéia) “Essas flores no copo de geléia” me alucinam “Essa lua, esse conhaque” e o mar O que mais quero Quando …

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Playsom

Playsom, playsom Já ouviu é dejavú Russo Passapusso Agradece, “merci beaucoup”! Playsom, playback Já ouviu aperta o REC A.ma.ssa é o pagodão Que gruda mais que chi(clete) Que corta mais que gi(lete) Então escute pi(vete) Hoje não tem cani(vete) É serpentina e con(fete) Playsom, playsom Já ouviu é dejavú Russo Passapusso Agradece, “merci beaucoup”! Ela …

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Todos Somos Um

Deixe a paz entrar no seu coração Com tudo de bom que a terra nos tráz Nossos pés descalços no chão Sentindo a vida e a criação Deixe o pensamento voar E o vento elevar sua imaginação E ao corpo todo tocar Seus olhos fechar terás a visão Deixe a água purificar Os seus sentimentos …

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Som do Gueto

O menina Tu sabe aquele som que vem do gueto É reggae music É reggae music O menina Tu sabe essa trança no teu cabelo Vem lá do gueto Vem lá do gueto (refrão) E tudo começou lá na Jamaica Com o grito de um povo Já cansado da dor e se espalhou Pelo mundo …

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É Preciso Mais Som

É preciso mais som Ouvir mais do que é bom Se ocupar melhor,melhor,melhor Viver é sua alegria É preciso apartar as brigas Deixar mais espaço e mais graça em minha vida Mais harpas, mais sinos mais torcidas, vários gritos Mais música em minha vida É somente o que eu preciso Enquanto não se ouvir o …

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O Som da sua Voz

Não me deixe na chuva não Não me tire do coração Não me diga que vai sem mim Já conheço esse teu olhar Uma luz a se afastar A quilômetros daqui Não me deixe na noite não Na travessa da desolação Não me diga que quer assim Porque ali não há calor Não há luz …

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Na Sombra da Lua

Hoje eu quero ser conforme a lua Passar toda a noite na rua Sozinho e triste Se por acaso alguém Me der alô eu dou alô Somente alô e vou me embora Não paro não, porque se que é pior Meu coração está chorando Querendo correr Querendo fugir E querendo morrer Tudo que essa vida …

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Som de Bob

Ai ai ai, a minha alma foi passear Quando eu fechei os olhos ouvindo o som de Bob tocar Nessa tarde de calor (Oh, Oh) Só quero cantar e dançar Ouvindo esse som que vem dos elementos da natureza Verde, amarelo e vermelho representando a unificação Dos povos africanos, fazendo uma só nação Na batida …

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O Som do Ara Ketu

Quando eu ouço o Ara Ketu Perco o sentido Quando eu ouço o Ara Ketu Perco o juízo amor Sempre quando o Ara passa A massa se agita A gente fica assim Co as pernas bambas E a mente confusa Querendo sacudir É tão gostoso ver a massa Cantando, dançando E dizendo assim Ô ô …

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No alto – Machado de Assis

O poeta chegara ao alto da montanha,E quando ia a descer a vertente do oeste,Viu uma cousa estranha,Uma figura má.Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,Num tom medroso e agrestePergunta o que será.Como se perde no ar um som festivo e doce,Ou bem como se fosseUm pensamento …

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Modinha

Quem é que pode ser gigante nesse mundo tão pequeno?Como é que faz pra gente ser feliz e rico ao mesmo tempo?Eu não sei, mas eu vou tentarTodo remédio que me cura tem uma contra-indicaçãoO que faz bem pra alma pode fazer mal pro coraçãoDe quem tem pressa de chegarAi quem me dera um dia,Ficar …

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Saravá

Veja como essa nega andaDescendo a ladeira do Sapoti(Curti, curti, curti, curti, curti)No salto, num charme de pretaMas que beleza essa nega Veja como essa nega andaDescendo a ladeira do Sapoti(Curti, curti, curti, curti, curti)No salto, num charme de pretaMas que beleza essa nega Ela que tem um axé bomÉ ela que tem um axé …

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Um lugar do caralho

Eu preciso encontrarUm lugar legal pra mimDançar e me escabelarTem que ter um som legalTem que ter gente legalE ter cerveja barata Um lugar onde as pessoasSejam mesmo afudêUm lugar onde as pessoasSejam loucas e super chapadasUm lugar do caralho Sozinho pelas ruas de São PauloEu quero achar alguém pra mimUm alguém tipo assimQue goste …

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Heavy metal do Senhor

O cara mais underground que eu conheço é o DiaboQue no inferno toca cover das canções celestiaisCom sua banda formada só por anjos decaídosA platéia pega fogo quando rolam os festivais Enquanto isso Deus brinca de gangorra no playgroundDo céu com santos que já foram homens de pecadoDe repente os santos falam: Toca, Deus, um …

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Segunda pele

À noite eu lhe convido:“Querido, vem pra cá”Um som no seu ouvidoSussurra logo: “Vá!” Por perto alguma gataJá grita que nem fãE logo o amor nos ataNa noite, nossa irmã Quando ele vem, faço deleMinha luva, meu collantA minha segunda peleO meu cobertor de lã São Paulo tá tão frioTrês graus, a sensaçãoMas o seu …

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Linha de passe

Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu Rabada com angu, rabo-de-saia Naco de peru, lombo de porco com tutu E bolo de fubá, barriga d’água Há um diz que tem e no balaio tem também Um som bordão bordando o som, dedão, violação Diz um diz que viu e no balaio viu também …

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Sampa a Pampa

Sampa a pampa na janela Que bela tela Torres pontilham na imensidão (é noite na pauliceia) Tocadores de instrumentos num apartamento Broderada unida fazendo um som Reggae music “yeaaaah” Swing na veia na vibe e no tom Reggae music “yeaaaah” Que benção que bom Reggae music “yeaaaah” Regando a alma fluidos do som Reggae music …

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Neguinho Babaçu

Esta é só mais uma história casual guardada na recordação E que se confunde com a própria história do reggae no Maranhão Um dia, um menino mandou uma cartinha muito interessante Para o programa Rádio reggae, da rádio Mirante Garoto muito inteligente, cartinha super bacana Dizia que não perdia um só dia do programa Vivia …

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Mundo em Confusão

So much trouble in the world (2x) UiÊ, uiê-o Mundo em confusão, mundo em aflição UiÊ, uiÊ-o Dias de tribulação, de degradação Degradação moral e ambiental Fruto da mesma ação nefasta De um sistema irracional Que polui, degrada e devasta Os mentores da ordem econômica Defensores de teses anacrônicas Senhores do saber e da razão …

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A Banca

Quem for sangue bom, demorou de se envolver Raízes tem demais, tem pra dar e vender Bom Rap me diverte faz eu viajar no mundo Deus há de fazer aqui no Broklin um escudo Com o tempo, eu vi onde estou Quem vacilou o esqueleto arrastou Os homem de preto aciona o dedo plick pléu …

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O Toco

Levanta véio a idéia fede mas essa suja as bordas Culpa do Fred não lembrar quando acorda Tava num show maneiro tocando num som fuleiro Parece Tora Tora só que uma versão só com viola Bem na metade do show tinha uma explosão Queimou a cidade no pipoco do trovão Foi quando veio Dona Coisinha …

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Kavookavala

Vooka… Vooka… Kavookavala!!! Certa feita na fazenda, o sinistro fez visita Mutilando o meu rebanho de forma esquisita Procurei por toda parte respostas encontrar Mas ninguém me disse nada que eu pudesse acreditar Esse povo é muito doido, já inventaram a nova praga O motivo da minha ira era um tal Kavookavala Todo mundo que …

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Tapanacara

Urucubaca, mandinga Ataca, mexe e me xinga Esquenta e racha a moringa Até que o leite azedou Bochecha inchada na raça Araçá, coentro e cachaça O berimbau tem cabaça E um som que é “deep in my soul” Randolph scott que era um cowboy retado Tipo touro sentado Mugiu e levantou O tapa na cara …

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Segue a Rima

Segue a rima, o som número 1 quem diria O hino nacional da periferia Eu lembro bem, eu não esqueço Quanto custo, como sofri, qual foi o preço Pra tê, poder vencer, crer na verdade Poder ir mais além da criminalidade Ai não desisti esse é meu mundo Tudo gira em torno (nah, nah, nah…) …

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O invasor

Quem é essa cara?? Sabotage Comprimenta os mano ai mano – E aí nêgo vei?? Firma?? Na fé E aí nêgo veio?? Firmão?? Forte?? – Tem 3 gravadoras nas bota do cara aqui o,mais 1 negocio que nois vamo investir Comé Q É?? É 5 conto pra fazer a gravaçao,manda um som ai Sabotage.. {SABOTAGE …

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Um Bom Lugar

Sou Sabotage, um bom lugar Se constrói com humildade é bom lembrar Aqui é o mano sabotage Vou seguir sem pilantragem, vou honrar, provar. No Brooklin to sempre ali Pois vou seguir, com Deus enfim. Não sei qual que é, se me vê dão ré Trinta cara a pé do piolho vem descendo lá na …

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Mun – Rá

Menina Leblon vermelho Baton foi vista com Joe malhando na praça Sabote Canão Convoca no som a Paz dos irmãos de toda quebrada Sabotage mano Anisio Eu vejo diabólico confiro analiso um Branco e um Preto unido respostas cala o ridiculo Vejo assim confisco, mundo submisso eu adiquiro, alivio, Paz para os meu filhos na …

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A Mais Pedida

Nesse show não entra menor, Um homem censurou, tava de mau humor Não tinha dormido bem porque não levantou Pense como ia ser bom Se nós fizesse um som que ultrapassasse A barreira das AM, FM e dos elevador Aí sim, dá um selin E mostra o seio that you saw Quando eu te vi …

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Mulher de gado

Eu vou contar a minha históriaHintória de um grande amorSou vaqueiro, sou forte, cabra que tem valorEu vivo de vaquejada, de botar gado no chãoMas vou falar de uma novilhaQue pegou meu coração Ô, ô, ô mulher de gadoÔ, ô, ô mulher de gadoDeixa qualquer vaqueiro apaixonado Quando ela passa sorrindo, começo logo a tremermeu …

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Principia

[Pastoras do Rosário]Lá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-ia [Emicida]Com o cheiro doce da arrudaPenso em buda, calmoTenso, busco uma ajudaÀs vezes me vem um salmoTira a visão que iluda, é tipo um oftalmoE eu, que vejo além de um palmoPor mim, tu, Ubuntu, algo almoSe for pra crer no terrenoSó no que …

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Amor é isso

Uma alegria de luz, o orgasmo da arteUm sonho, uma ardência na alma, uma dor, uma sorteMais que uma oferta egoísta e possessivaUma canção de ninar em carne vivaUm universo inteiro de prazer no céuA ressonância da paz no coração do seioNobre ilusão do horizonte, da febre sem fimE o som da banda avisando que …

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Viagem passageira

O sonho é ter tudo resolvidoCom o passar do tempo pela vidaA casca da ferida se formandoA cicatriz na pele do futuroA pele do futuro finalmenteImune ao corte, à lâmina do tempoO tempo finalmente estilhaçadoE a poeira sumindo no horizonte O sonho é ter tudo dissolvidoO corpo, a mente, a fonte da lembrançaEnfim, ponto final …

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Palavras no corpo

Fomos felizes e felizes fomosE se já não somos, meu amorNão se preocupe, nãoAperte a minha mãoAté a luz sumirEm meio à escuridãoVocê vai confiar em mim Guarde um pedaço de mimUm cheiro no lado da camaSeu gosto na ponta do queixoMeu sangue escorrendo seu peito Vejo no tato sua peleTatuo com dedo o seu …

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Mar e sol

Um SolEu souPara o seu mar, ó meu amor;VocêO mar éPara o meu Sol, para eu me pôr; Me pôrEm você,Me espelhar, me espalhar;Meu SolDe arrebolDeitar no leito de seu mar – E entrar em você,Em você queimar, arder;Em você tremer, em você,Em você morrer, morrer. Um só,Um nóDe fogo e água, terra e céu,A …

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Vaca profana

Respeito muito minhas lágrimasMas ainda mais minha risadaEscrevo, assim, minhas palavrasNa voz de uma mulher sagrada Vaca profana, põe teus cornosPra fora e acima da manadaVaca profana, põe teus cornosPra fora e acima da manada Ê, ê, êDona de divinas tetasDerrama o leite bom na minha caraE o leite mau na cara dos caretas Segue …

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Atrás da Luminosidade

Andar à toa por aíAtrás da luminosidadeDe porta em porta, casa em casaRua em rua, que vontadeDe não ter direção, profissãoNada pra oferecerDe ser que nem balãoSair do chãoPra todo mundo ver Sentindo a força irresistível da cidadeO meu sorriso cheio de felicidadeVendo a moçada bater palma com vontadeAtração e novidade que eu preciso pra …

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Bloco do prazer

Pra libertar meu coraçãoEu quero muito maisQue o som da marcha lentaEu quero um novo balancêO bloco do prazerQue a multidão comentaNão quero oito nem oitentaEu quero o bloco do prazerE quem não vai querer?Mamã mamãe eu quero simQuero ser mandarimCheirando gasolinaNa fina flor do meu jardimAssim como o carmimDa boca das meninasQue a vida …

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Ilusão à toa

Eu acho engraçadoQuando um certo alguémSe aproxima de mimTrazendo exuberânciaQue me extasia Meus olhos sentemMinhas mãos transpiramÉ um amor que eu guardo há muitoDentro em mimE é a voz do coração que canta assimAssim Olha, somente um diaLonge dos teus olhosTrouxe a saudade do amor tão pertoE o mundo inteiro fez-se tão tristonho Mas embora …

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Da calma e do silêncio – Conceição Evaristo

Quando eu mordera palavra,por favor,não me apressem,quero mascar,rasgar entre os dentes,a pele, os ossos, o tutanodo verbo,para assim versejaro âmago das coisas.Quando meu olharse perder no nada,por favor,não me despertem,quero reter,no adentro da íris,a menor sombra,do ínfimo movimento.Quando meus pésabrandarem na marcha,por favor,não me forcem.Caminhar para quê?Deixem-me quedar,deixem-me quieta,na aparente inércia.Nem todo viandanteanda estradas,há mundos …

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Do azul, num soneto – Alphonsus de Guimaraens Filho

Verificar o azul nem sempre é puro.Melhor será revê-lo entre as ramadasE os altos frutos de um pomar escuro— Azul de ténues bocas desoladas. Melhor será sonhá-lo em madrugadas,Claro, inconstante azul sempre imaturo,Azul de claridades sufocadasLatejando nas pedras — nascituro. Não este azul, mas outro e dolorido,Evanescente azul que na orvalhadaFicou, pétala ingênua, torturada. Recupero-o, …

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Nostalgia dos anjos – Alphonsus de Guimaraens Filho

País da sombraVem do olhar do morto,Vem do olhar cerrado,Vem da face extintaSob a noite grave,O gemido suave,Desumanízado. Ah! é a melodiaDos momentos frios,Dos momentos velhos,Desaparecidos.Risos esquecidos,Casarões vazios. Vem do corpo em sombraUma saudade mansa.Voz de outros desterrosPara além de nós.Gritos de criançasE as lembranças doídasPara além de nós.Canta, esquece, sonha.Já nem tenho voz. Ó …

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Teu corpo seja brasa – Alice Ruiz

teu corpo seja brasae o meu a casaque se consome no fogo um incêndio bastapra consumar esse jogouma fogueira chegapra eu brincar de novo Alice Ruiz Autor: Alice Ruiz

Vaso chinês – Alberto de Oliveira

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,Casualmente, uma vez, de um perfumadoContador sobre o mármor luzidio,Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado,Nele pusera o coração doentioEm rubras flores de um sutil lavrado,Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura,Quem o sabe?… de um velho mandarimTambém lá …

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Fantástica – Alberto de Oliveira

Erguido em negro mármor luzidio,Portas fechadas, num mistério enorme,Numa terra de reis, mudo e sombrio,Sono de lendas um palácio dorme. Torvo, imoto em seu leito, um rio o cinge,E, à luz dos plenilúnios argentados,Vê-se em bronze uma antiga e bronca esfinge,E lamentam-se arbustos encantados. Dentro, assombro e mudez! quedas figurasDe reis e de rainhas; penduradasPelo …

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Aspiração – Alberto de Oliveira

Ser palmeira! existir num píncaro azulado,Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;Dar ao sopro do mar o seio perfumado,Ora os leques abrindo, ora os leques fechando; Só de meu cimo, só de meu trono, os rumoresDo dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,E no azul dialogar com o espírito das flores,Que invisível ascende …

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A cancela da estrada – Alberto de Oliveira

Bate a cancela da estradaConstantemente. Cavaleiro, à disparada,Lá vai no cavalo ardente.Cavaleiro em descuidadaMarcha, lá vem indolente. Passa, ondeia levantadaA poeira, toldando o ambiente. Bate a cancela da estradaConstantemente. Bate, e exaspera-se e bradaOu chora contra o batente:(Ninguém lhe ouve na arrastada,Roufenha voz o que sente) — “Minha vida desgraçadaRepouso não me consente;Vivo a bater …

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À minha extremosa amiga D. Ana Francisca Cordeiro – Maria Firmina dos Reis

Donzela, tu suspiras – esse pranto, Que vem do coração banhar teu rosto, Esse gemer de lânguido penar, Revela amarga dor – imo desgosto: Amiga… acaso cismas ao luar, Terno segredo de ignoto amor?!… Soltas madeixas desprendidas voam Por sobre os ombros de nevada alvura; Tua fronte pálida os pesares c’roam Como auréola de martírio… pura, Cândida virgem… que abandono o teu? Sonhas acaso com …

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Meditação – Maria Firmina dos Reis

(À minha querida irmã – Amália Augusta dos Reis)     Vejamos pois esta deserta praia, Que a meiga lua a pratear começa, Com seu silêncio se harmoniza esta alma, Que verga ao peso de uma sorte avessa. Oh! meditemos na soidão da terra, Nas vastas ribas deste imenso mar; Ao som do vento, que sussurra triste, Por entre os leques do gentil …

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Nas praias do Cumam – Solidão – Maria Firmina dos Reis

Aqui na solidão minh’alma dorme; Que letargo profundo!… Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito.No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório – além Como chorosa, abandonada amante.E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas …

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Ensaio sobre nós – Elizandra Souza

Nossas afinidades Tardes de preciosidades suco de cacau com graviola um samba de Cartola ele fumaça, eu incenso ele melodia, eu silêncio Nossas contendas Resolvemos com oferendas Ervas de benzedura Mordida na cintura Lambida no pescoço Esquecemos do almoço Somos estações do ano Períodos de estiagem Épocas de chuva Uma manhã ele me seduz Uma …

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Para um negro – Adão Ventura

para um negro a cor da pele É uma sombra muitas vezes mais forte que um soco para um negro a cor da pele É uma faca que atinge muito mais em cheio o coração – Adão Ventura, em “Costura de nuvens” (Antologia poética).. [organização e seleção Jaime Prado Gouvêa e Sebastião Nunes]. Sabará, MG: …

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Senzala – Adão Ventura

senzalaé minha carne retalhadapelo dia-a-dia senzalaé a sombra que tenho aprisionadanos ghetos da minha pele.– Adão Ventura, em “A cor da pele”. Belo Horizonte: Edição do Autor, 1980. Adão Ventura Autor: Adão Ventura

Um – Adão Ventura

em negro teceram-me a pele. enormes correntes amarraram-me ao tronco de uma Nova África. carrego comigo a sombra de longos muros tentando me impedir que meus pés cheguem ao final dos caminhos. mas o meu sangue está cada vez mais forte, tão forte quanto as imensas pedras que os meus avós carregaram para edificar os …

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Silêncio – Adalgisa Nery

Nas mãos inquietas Cansadas esperanças Tateando formas na luz ausente, Nos olhos embrumados A viva cruz do alívio, Na boca imobilizada A palavra amortalhada. E à tona da fugaz realidade O mistério das surpresas superadas. Paisagem de espaços, e fantasmas Ordenam não falar, não morrer, Ouvir sem conduzir o pensamento, Viver os vazios lúcidos Entre …

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Vivência – Adalgisa Nery

Começamos a viver Quando saímos do sono da existência, Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo. Começamos a viver Quando confusos e sem consolo Não sentimos os traços do irmão perdido. Quando antes da força Surge a sombra do insignificante. Quando o sono é transformado em sonhos superados, Quando o existir não é …

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Fantasmas – Adalgisa Nery

Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas  Chegam à minha alma  E como sombras da noite  Levantam os meus ímpetos mortos  Desatando as ligaduras do tempo.  O luar da madrugada fria cai no meu rosto  E ilumina com branda amargura  O meu espírito que espera a hora insolúvel.  Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na …

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Paisagem – Adalgisa Nery

Restam nos meus olhos Séculos de planícies áridas E o vento ríspido que trouxe as lamentações Das sombras agitadas Sobre os pântanos desconhecidos Distantes estão os caminhos Onde eu encontraria a suprema fraqueza Para vergar os meus joelhos E deitar no pó a minha boca moribunda Invisíveis estão as estrelas Que me levariam a contemplar …

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Olhando no espelho – Abdias do Nascimento

(Para meus netos Samora, Alan e Henrique Alberto)Ao espelho te vejo negrinhote reconheço garoto negrovivemos a mesma infânciaa melancolia partilhada do teu profundo olharera a senha e a contra-senhaidentificando nosso destinoconfraria dos humilhadosa povoar de terna lembrançaesta minha evocação de FrancaÉramos um só olharnos papagaios empinadosao sopro fresco do entardecerNegrinho garota negravivemos a mesma infâncianos …

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Anseio – Adalgisa Nery

Quero que desça sobre mim a grande sombra que alivia, Aquela que arranca do meu coração a revolta que me impede de ser mansa. Quero descansar… Quero encontrar aquele que é mais belo que o sol, Que aumenta o meu sofrimento e que ajuda na minha redenção, Que reparte suas angústias comigo para que lhe …

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Aspiração – Adalgisa Nery

Antes que vingue outra esperança Quero as sombras do branco espesso. Antes que mais uma insônia se cumpra Quero o torpor no abismo indecifrável Do espírito amortalhado. Antes que o pensamento acorde E descubra os espaços petrificados, Quero narcotizar-me sem sonhos E deitar-me no mundo sem sombras, Sem palavras nem gestos. Antes que alguma crença …

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Estigma – Adalgisa Nery

Não receio que partas para longe, Que faças por fugir, por te livrares Da força da minha voz E da compreensão do meu olhar. Não temo que os mares te levem No bojo dos transatlânticos Nem tampouco me amedronta Que em possantes aviões No céu e na terra, Em todos os seres me encontrarás Cortes …

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A um homem – Adalgisa Nery

Quando numa rocha porosa Cansado te encostares E dela vires surgir a umidade e depois a gota, Pensa, amado meu, com carinho, Que aí esta a minha boca. Se teus olhos ficarem nas praias E vires o mar ensalivando a areia Com alegria pensa amado meu Num corpo feliz Porque é só teu. Se descansares …

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Clima – Orides Fontela

Neste lugar marcado: campo onde uma árvore única se alteia e o alongado gesto absorvendo todo o silêncio – ascende e                     imobiliza-se (som antes da voz pré-vivo ou além da voz e vida) neste lugar marcado: campo                 …

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Dor eterna – Júlia Cortines

O tempo – dizem – apagaO prazer e o sofrimentoSobre eles rolando a vagaSombria do esquecimento.E transforma encantadoresSítios, que tu, Abril, vestesDe uma gaze de esplendores,Em sítios feios e agrestes.E faz germinar nas águas,Que bebe a gandra bravia,O lírio, como das mágoasBrota a flor da alegria.E, no entretanto, contemplo,Extática e dolorosa,Entre os escombros de um …

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IV – Júlia Cortines

Com triste olhar seguindoOs pássaros, que em bandoLá voam para o azul da montanha fronteiraEnvolta na doirada e lúcida poeira,Que foge, à proporção que o sol vai recuandoE a sombra vai subindo; Penso no amor infindoQue me prendeu ao brandoRaio do teu olhar; e minha alma de poetaDeixa a sombra que a cerca, e voa, …

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V – Júlia Cortines

Do mês de Maio a luz do sol mais brandoDesce do espaço em leves frocos de ouro,E, pelos frios ares ondulando,Envolve a mata e espelha o sorvedouro.Se enrola o raio aveludado e louroPelos ramos, aos quais, se aproximandoAs horas do crepúsculo, cantandoVoltam as aves em alegre coro.Mas nem sequer eu na janela assomo.Só vejo a …

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Eternidade – Júlia Cortines

Eternidade d’alma! ilusória miragem, Que a alma busca através da crença e do terror, A idear uma calma ou sombria paragem De infinito prazer ou de infinita dor!Por que há de haver além, noutro mundo distante, Um prêmio eterno para a virtude mortal? E para o ser que vive apenas um instante Por que há …

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Anfitrite – Júlia Cortines

(Sobre uma página de Fénelon) Tinta a escama de azul e de oiro, solevandoEm seus brincos a vaga espúmea, pelo bandoDos alegres tritões, que os búzios retorcidosSopram, enchendo o ar de músicos ruídos,Acompanhados, vão os ligeiros golfinhosSeguindo de Anfitrite o carro, que marinhosCorcéis, – que têm na cor cetinosa do peloA brancura da neve e …

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Entre abismos – Júlia Cortines

Mistérios só, de um lado, e sombras…Em seguida,A estrada tortuosa e aspérrima da vida,Onde impreca a Revolta, onde brada o Terror,Onde geme a Saudade e se lastima a Dor,E, co’o gesto convulso e os traços descompostos,Batidos pelo vento, à tempestade expostos,Atropelam-se, em doida e febril confusão,O Desespero, a Raiva, a Cólera, a Paixão,Cujo concerto de …

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Dies iræ – Júlia Cortines

A esse som de trombeta e de alarma, quem há de Dormir? Mortos, deixai a paz da sepultura E acorrei: o que ouvis é o clarim da Saudade! De pé! de pé! de pé! Despedaçai a dura Lousa que sobre vós lançou o esquecimento, Espectros do sofrer, fantasmas da ventura! Ó divina ilusão, que um …

Dies iræ – Júlia Cortines Leia mais »

Cântico de exílio – Jacinta Passos

Estou cansada, Senhor.Minha alma insaciável,a minha alma faminta de beleza,ávida de perfeição,é perseguida pelo teu amor.Puseste dentro dela esta ânsia infinitacujo ardor queima,como a sede que em pleno deserto escaldantepersegue o viajor.Esta angústia, que cresce e que vibra e palpita,nasceu dentro em mimno mesmo divino instanteem que, morrendo a última ilusão,só me restava afinaluma fria …

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Crepúsculo – Jacinta Passos

Vai lentamente agonizando o dia…O poente onde, há pouco, o sol ardia,se tingiu de cor de ouro, luminosa.Tons desmaiados de lilás e rosalistram o puro azul do firmamento– um poema de luz, neste momento.A sombra de mansinho vem caindoe o contorno das coisas, diluindo.Pesa um grande silêncio, enorme e mudo.Desce suavemente sobre tudo,uma bênção dulcíssima …

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Incerteza – Jacinta Passos

Em meu olhar se espelhaa sombra interior de incerteza angustiante.E em minha alma floresce, como rosa vermelhadum vermelho gritante,como o clangor clarim,esta angústia que vive a vibrar dentro em mim.É a minha vida um longo e ansioso esperar,num amor que há de vir.Amor – prazer que é dor e sofrer que é gozar –Amor que …

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Navio de imigrantes – Jacinta Passos

a Lasar Segall Gestos paradosno limiardo céu e mar.Corpos largadosdesamparados,límpido tempode primaveramora no fundode vossa espera.Navio sombrio, que levas no bojo?– descobre o teu véu:navegas em busca da terra ou do céu?Corpos humanossuportam corpos,seus desenganos.Corpo, cansaço,longa viagem,busca um regaço,terra ou miragemArca ou navio,nau ou galera,vens doutra era,séculos a fio. Qual o teu rumo?Levas o sumoda dor …

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1935 – Jacinta Passos

Tenso como rede de nervospressentindo ah! novembrode esperança e precipício.Fruto peco.Novembro de sangue e de heróis.Grito de assombro morto na garganta,soluço seco dor sem nome. Ferido.De morte ferido. Como um animal ferido. Lutade entranhas e dentes. Natal.Sangue. Praia Vermelha.Sangue.Sangue. É quase um fioescorrendosangrentotenazpor dentro dos cárceres,nas ilhase nos corações que a esperança guardaram.– Jacinta Passos, …

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O poema – Ivan Junqueira

Não sou eu que escrevo o meu poema:ele é que se escreve e que se pensa,como um polvo a distender-se, lento,no fundo das águas, entre anêmonasque nos abismos do mar despencam.Ele é que se escreve com a penada memória, do amor, do tormento,de tudo o que aos poucos se relembra:um rosto, uma paisagem, a intensapulsação …

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Ritual – Ivan Junqueira

Fecho as janelas desta casa(seus corredores, seus fantasmassua aérea arquitetura de pássaro)fecho a insônia que inundavameu quarto debruçado sobre o nadafecho as cortinas onde a larvado tempo tece agora sua pragafecho a clara algazarra plácidadas vozes sangüíneas da alvoradafecho o trecho taciturno da tocataa chuva percutindo as teclas do telhadoas sombras navegando pelo pátio    …

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Poesia: – Paulo Leminski

“words set to music” (Dantevia Pound), “uma viagem aodesconhecido” (Maiakóvski), “cernese medulas” (Ezra Pound), “a fala doinfalável” (Goethe), “linguagemvoltada para a sua própriamaterialidade” (Jakobson),“permanente hesitação entre som esentido” (Paul Valery), “fundação doser mediante a palavra” (Heidegger),“a religião original da humanidade”(Novalis), “as melhores palavras namelhor ordem” (Coleridge), “emoçãorelembrada na tranquilidade”(Wordsworth), “ciência e paixão”(Alfred de Vigny), “se …

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Adminimistério – Paulo Leminski

Quando o mistério chegar,já vai me encontrar dormindo,metade dando pro sábado,outra metade, domingo.Não haja som nem silêncio,quando o mistério aumentar.Silêncio é coisa sem senso,não cesso de observar.Mistério, algo que, penso,mais tempo, menos lugar.Quando o mistério voltar,meu sono esteja tão solto,nem haja susto no mundoque possa me sustentar. Meia-noite, livro aberto.Mariposas e mosquitospousam no texto incerto.Seria …

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XXVII – Jorge de Lima

Há uns eclipses, há; e há outros casos: de sementes de coisas serem outras, rochedos esvoaçados por acasos e acasos serem tudo, coisas todas. Lãs de faces, madeiras invisíveis, visão de coitos entre os impossíveis, folhas brotando de âmagos de bronze, demônios tristes choros nas bifrontes. Tudo é veleiro sobre as ondas íris, condores podem …

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Morte e Vida Severina (trecho) – João Cabral de Melo Neto

— O meu nome é Severino,como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Maria;como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor …

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A estrada – Ariano Suassuna

No relógio do Céu, o Sol ponteiroSangra a Cabra no estranho céu chumboso.A Pedra lasca o Mundo impiedoso,A chama da Espingarda fere o Aceiro. No carrascal do sol, azul braseiro,Refulge o Girassol rubro e fogoso.Como morrer na sombra do meu Pouso?Como enfrentar as flechas desse Arqueiro? Lá fora, o incêndio: o roxo lampadáriodas Macambiras rubras …

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Lápide – Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalonas pedras do meu Pasto incendiado:fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lonuma Sela de couro esverdeado,que arraste pelo Chão pedroso e pardochapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido,tropel de cascos, sangue do Castanho,talvez …

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Casamento – Adélia Prado

Há mulheres que dizem:Meu marido, se quiser pescar, pesque,mas que limpe os peixes.Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram,ele fala coisas como “este foi difícil”“prateou no ar dando rabanadas”e faz o gesto …

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Dona Doida – Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.A …

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Ternura – Vinícius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repenteEmbora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidosDas horas que passei à sombra dos teus gestosBebendo em tua boca o perfume dos sorrisosDas noites que vivi acalentadoPela graça indizível dos teus passos eternamente fugindoTrago a doçura dos que aceitam melancolicamente.E posso te dizer que …

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Saudades – Casimiro de Abreu

Nas horas mortas da noiteComo é doce o meditarQuando as estrelas cintilamNas ondas quietas do mar;Quando a lua majestosaSurgindo linda e formosa,Como donzela vaidosaNas águas se vai mirar! Nessas horas de silêncio,De tristezas e de amor,Eu gosto de ouvir ao longe,Cheio de mágoa e de dor,O sino do campanárioQue fala tão solitárioCom esse som mortuárioQue …

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Moreninha – Casimiro de Abreu

Moreninha, Moreninha,Tu és do campo a rainha,Tu és senhora de mim;Tu matas todos d’amores,Faceira, vendendo as floresQue colhes no teu jardim. Quando tu passas n’aldeiaDiz o povo à boca cheia:– “Mulher mais linda não há“Ai! vejam como é bonita“Co’as tranças presas na fita,“Co’as flores no samburá! – Tu és meiga, és inocenteComo a rola que …

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Pedra no cachimbo – Miriam Alves

A pedra quando chega acertaacerta bem no meio dos meus sonhosbem nos olhos da esperançae cegaa pedra quando chegaé fumaça em cachimbos improvisadosé cinco segundos de noia eufórica  fúria em descontroleA pedra quando chega é demo-cráticaacerta brancos negros pobre e ricos  Mas os poderes públicos só se sensibilizamquando a pedra no cachimbo acertaa vidraça das …

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O gato – Vinícius de Moraes

Com um lindo saltoLesto e seguroO gato passaDo chão ao muroLogo mudandoDe opiniãoPassa de novoDo muro ao chãoE pega correBem de mansinhoAtrás de um pobreDe um passarinhoSúbito, paraComo assombradoDepois disparaPula de ladoE quando tudoSe lhe fatigaToma o seu banhoPassando a línguaPela barriga. Vinícius de Moraes Autor: Vinícius de Moraes

Desde sempre em mim – Hilda Hilst

Contente. Contente do instante Da ressurreição, das insônias heroicas Contente da assombrada canção Que no meu peito agora se entrelaça. Sabes? O fogo iluminou a casa. E sobre a claridade do capim Um expandir-se de asa, um trinado Uma garganta aguda, vitoriosa. Desde sempre em mim. Desde Sempre estiveste. Nas arcadas do Tempo Nas ermas …

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Desejo – Hilda Hilst

Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada. IPorque há desejo em mim, é tudo cintilância.Antes, o cotidiano era um pensar alturasBuscando Aquele Outro decantadoSurdo à minha humana ladradura.Visgo e suor, pois nunca se faziam.Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivoTomas-me o corpo. E que descanso me dásDepois das lidas. Sonhei penhascosQuando …

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Becos de Goiás – Cora Coralina

Becos da minha terra…Amo tua paisagem triste, ausente e suja.Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo. Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,Descendo de quintais …

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I-Juca-Pirama – Gonçalves Dias

                      I No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já …

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A vida é líquida – Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.Nela despenco: pedra mórula ferida.É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.Como-a no livro da línguaTinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-meNo estreito-poucoDo meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vidaTua unha púmblea, me casaco rossoE perambulamos de coturno pela ruaRubras, góticas, altas de …

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Ama-me – Hilda Hilst

Aos amantes é lícito a voz desvanecida.Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido:Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. Não vêsQue sobre o muro dos mortos a garganta do mundoRonda escurecida? Não é tempo, senhora. Ave, moinho e ventoNum vórtice de sombra. Podes cantar de amorQuando …

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Amavisse – Hilda Hilst

Como se te perdesse, assim te quero.Como se não te visse (favas douradasSob um amarelo) assim te apreendo bruscoInamovível, e te respiro inteiro Um arco-íris de ar em águas profundas. Como se tudo o mais me permitisses,A mim me fotografo nuns portões de ferroOcres, altos, e eu mesma diluída e mínimaNo dissoluto de toda despedida. …

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Nossa truculência – Clarice Lispector

Quando penso na alegria vorazcom que comemos galinha ao molho pardo,dou-me conta de nossa truculência.Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,tanto gosto delas vivasmexendo o pescoço feioe procurando minhocas.Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?Nunca.Nós somos canibais,é preciso não esquecer.E respeitar a violência que temos.E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,comeríamos …

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Sou… – Clarice Lispector

… assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade Guiam-me, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de …

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Versos íntimos – Augusto dos Anjos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a Ingratidão — esta pantera —Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera!O Homem, que, nesta terra miserável,Mora, entre feras, sente inevitávelNecessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a …

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Meus oito anos – Casimiro de Abreu

Oh ! que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais !Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais ! Como são belos os diasDo despontar da existência !– Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é – lago sereno,O céu …

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Violeta – Casimiro de Abreu

Sempre teu lábio severoMe chama de borboleta!– Se eu deixo as rosas do pradoÉ só por ti – violeta! Tu és formosa e modesta,As outras são tão vaidosas!Embora vivas na sombraAmo-te mais do que às rosas. A borboleta travessaVive de sol e de flores.– Eu quero o sol de teus olhos,O néctar dos teus amores! …

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Encomenda – Cecília Meireles

Desejo uma fotografiacomo esta — o senhor vê? — como esta:em que para sempre me riacomo um vestido de eterna festa. Como tenho a testa sombria,derrame luz na minha testa.Deixe esta ruga, que me emprestaum certo ar de sabedoria. Não meta fundos de florestanem de arbitrária fantasia…Não… Neste espaço que ainda resta,ponha uma cadeira vazia. …

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A fome e o amor a um monstro fome – Augusto dos Anjos

E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,Receando outras mandíbulas a esbangem,Os dentes antropófagos que rangem,Antes da refeição sanguinolenta! Amor! E a satiríasis sedenta,Rugindo, enquanto as almas se confrangem,Todas as danações sexuais que abrangemA apolínica besta famulenta! Ambos assim, tragando a ambiência vasta,No desembestamento que os arrasta,Superexcitadíssimos, os dois Representam, no ardor dos seus assomosA alegoria …

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A noite – Augusto dos Anjos

A nebulosidade ameaçadoraTolda o éter, mancha a gleba, agride os riosE urde amplas teias de carvões sombriosNo ar que alacre e radiante, há instante, fora. A água transubstancia-se. A onda estouraNa negridão do oceano e entre os naviosTroa bárbara zoada de ais bravios,Extraordinariamente atordoadora. À custódia do anímico registroA planetária escuridão se anexa…Somente, iguais a …

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Alucinação a beira mar – Augusto dos Anjos

Um medo de morrer meus pés esfriava.Noite alta. Ante o telúrico recorte,Na diuturna discórdia, a equórea coorteAtordoadoramente ribombava! Eu, ególatra céptico, cismavaEm meu destino!… O vento estava forteE aquela matemática da MorteCom os seus números negros me assombrava! Mas a alga usufructuária dos oceanosE os malacopterígios subraquianosQue um castigo de espécie emudeceu, No eterno horror …

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Caixão fantástico – Augusto dos Anjos

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,Cinzas, caixas cranianas, cartilagensOriundas, como os sonhos dos selvagens,De aberratórias abstrações abstrusas! Nesse caixão iam talvez as Musas ,Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagensEnchiam meu encéfalo de imagensAs mais contraditórias e confusas! A energia monística do Mundo,À meia-noite, penetrava fundoNo meu fenomenal cérebro cheio … Era tarde ! Fazia muito …

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